Posted in Caroline. on domingo, julho 22, 2007|
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Fazia sete anos que Jorge se matara no banheiro de casa e Ana ainda não tinha superado.
Parecia ontem, primeiro de janeiro de dois mil e um.
Lá estava ele, jogado no chão do banheiro, com cortes por todo o corpo, mergulhado em uma poça de sangue.
Depois desse dia, Ana nunca mais foi a mesma. A vida dela ficou dividida em duas partes- antes de Jorge partir e quando Jorge partiu. E entre aquele antes e aquele quando, não restava mais nada na vida dela, a não ser um vazio imenso e um espaço em branco deixado por ele naquele dia primeiro. Ana poderia preencher esse espaço vazio de tanta coisa. Ações, intenções, palavras ou qualquer coisa que ela quisesse.
Encontrou o silêncio e a letargia emocional e foi o jeito doloroso para ocupar seus dias, o vazio que ocupava o apartamento, a cama sem Jorge ao lado, os jantares com a cadeira em frente vaga.
Quando Jorge morreu, Ana ficou estática durante horas na sala segurando a carta que ele deixara a ela, apenas segurando nas mãos, olhando a noite cair pela janela e respirando, como se estivesse dentro de uma bolha de sabão redonda, intocável, suspensa no ar bem no centro da sala.
Depois daquele dia, o dia quando Jorge partiu, só restavam duas coisas para Ana – lágrimas e vodca. Vodca pura, para o gosto amargo tomar conta do amargo que tornou-se sua vida e lágrimas, muitas delas. A sensação de ter um nó na boca estômago, as manhãs de ressaca, os olhos inchados. Às vezes era involuntária a ação e sua vida se tornou uma longa meditação sobre o nada.
Chegou dia primeiro de janeiro de dois mil e dois…de dois mil e três…dois mil e quatro…E, quando chegou o dia primeiro de janeiro de 2008, olhando a noite cair pela janela da sala, com um copo de vodca ao lado e lágrimas nos olhos, Ana se suicidou.
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