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Archive for junho \28\+00:00 2007

Não

A noite corria normal. No som tocava incansavelmente Cazuza e sua voz rouca e anestesiante dizendo “eu queria ter uma bomba, um flit paralisante qualquer pra poder te negar bem no ultimo instante”, “eu queria ter uma bomba, um flit paralisante qualquer pra poder te negar bem no ultimo instante”, “eu queria ter uma bomba, um flit paralisante qualquer pra poder te negar bem no ultimo instante”….e ela não parava de fazer o que estava fazendo. Sentada, com um pedaço de papel apoiado em um livro – livro que de tão velho algumas paginas já haviam caído e amarelado e se abrisse o fedor de mofo lhe invadia as narinas fazendo-a espirrar – rasbicando, rabiscando, rabiscando. Rabiscando o nada, não fazia algum sentido aquele monte de traços e círculos, só deixava a folha branca, cada vez mais azul com a tinta da caneta.
Não sabia o porque estava escutando incessantemente Eu queria ter uma bomba, afinal nunca havia escutado Cazuza quando sentia-se como naquele instante, mas gostava da melodia de suas musicas e sempre o achou genial em suas letras. Às vezes ela tinha mesmo essa vontade, de dilacerar o instante para impedir qualquer possibilidade de aceitar o que não devia aceitar.
“Fraca. Fraca. Fraca”, pensou. Não conseguia se envolver sem deixar seu amor próprio de lado. Priorizava ele demais, tinha-o em um pedestal altíssimo e se possível, intocável por qualquer um. Negar era realmente uma coisa que ela ainda não aprendera com a vida.
NÃO. Para ela esta palavra tinha um peso tão grande, mas tão grande… Sempre que ouvira um não era como se o instante congelasse e a dor dessa palavra fosse como uma facada no meio do peito e não parasse de incomodar, cutucar e doer!
Continuava rabiscando e pensando no seu papel de mulher frágil e ouvindo “eu queria ter uma bomba, um flit paralisante qualquer pra poder te negar bem no ultimo instante“.
Lembrou do ultimo não, que não foi explicitamente falado de modo com que o som das três letrinhas chegassem ao seus ouvidos, mas foi um não silencioso. Ele falou não pelo olhar. O silêncio dele lhe doía. Porém, era acostumada, a ausência de palavras era uma coisa puída em sua vida, como várias outras.
Numa leve piscada sentiu escorrer uma lágrima que caiu no papel e manchou seus rabiscos sem sentido. E parece incrível, sentir uma lagrima escorrer é suficiente para fazer derramar milhares delas, como se a dor no meio do peito resolvesse escapar fazendo o trajeto: cantinho dos olhos, bochechas até cair e fim.
Chorou, chorou e chorou, borrando todo o papel. Até pegar no sono e acordar depois de horas, com os olhos pesados, a cabeça latejando e o Cazuza cantando “eu queria ter uma bomba…”…

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Sabe aquele medo horrível de sofrer? De perder algo que ama muito? De vomitar? De que tudo saia do seu controle?
Tenho todos!

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